"Sobrevivente"

 Na peça Sobrevivente realizada no Sesc Maringá, observamos a atriz Nena Inoue em diálogo com o ator Pedro Inoue, seu filho, narrando uma história sobre sua própria ancestralidade, com foco nas existências das mulheres, sendo: a mãe, primas, tias e sua avó. É observado nesse percurso, as longas buscas por informações, as quais demandaram tempo, paciência e uma escuta muito ativa de Nena. A história te prende e enquanto espectadora, colo-me no lugar da personagem, pois assim como ela ainda tenho narrativas dispersas envoltas em grandes dúvidas. A partir desse primeiro contexto, o que se sobressai, nessa crítica, serão os recursos imagéticos utilizados para compor a espacialidade da memória, encontros e desencontros que a história possui.

Na maioria das cenas acontecem projeções, com imagens, símbolos e objetos, que são dispostos em cima da mesa, do lado esquerdo do palco, onde Pedro materializa ao mesmo tempo em que a atriz narra, e olha para três eixos: a atriz verbalizando, o ator produzindo essas imagens e as imagens projetadas; foi algo novo, imersivo e que traz novos olhares para a cena teatral. Não imaginava ser possível, pois isso aconteceu a partir da utilização de um retroprojetor antigo, que nós discentes da Universidade Estadual de Maringá possuímos em nosso acervo e até já trabalhamos em processos de criação. Porém, não pensamos sequer na possibilidade de levar para a cena narrativas conectadas a esse aparato.

O modo como isso acontece em cena, não está completamente disposto à marcações, é perceptível que, em alguns momentos, a atriz improvisa devido ao encontro e troca com a plateia, Pedro encontra-se muito atento às ordens das narrativas contadas pela mãe, e digo dessa forma pois é como os dois se relacionam nesse processo, mãe e filho, criando uma dualidade, ora atriz/ator ora personagens. 

Outro elemento tecnológico, que traz camadas para a narrativa é uma câmera analógica que capta um momento importante da peça: Já ao final da história, quando a atriz descobre quem era sua avó, estabelece um monólogo profundo evidenciando que aquelas histórias, narradas majoritariamente sobre olhares de homens, não definem quem realmente foi essa mulher, bem como os gostos ela tinha, a cor preferida, os sonhos que almeja realizar. Como sua avó não deixou nenhum retrato, nesse momento o ator cria a imagem da avó a partir da disposição corporal que a atriz se encontra, em cima de uma pedra, a qual causa muito desequilíbrio sobre o seu corpo e se conecta às narrativas incertas que ali cercam suas palavras densas. Logo, se para ela a imagem, material, da avó não existia, para nós ela se torna legítima, uma vez que a foto tirada de Nena, é a mesma que é projetada em questão de segundos ao fundo do palco. 

Além da peça nos fazer refletir sobre o que veio antes de nós, e quais pessoas contam e detém o poder de ditar narrativas de outras pessoas,verdadeiras ou não, a partir dos recursos utilizados penso novamente em como usar a tecnologia a nosso favor em produções teatrais. Entretanto não apenas as tecnologias atuais, como por exemplo a inteligência artificial e aumentada, mas também as que deixamos de lado e ditamos serem ultrapassadas. Foi oportuno ver em cena essas disposições e possibilidades outras. E para concluir, compartilho as principais palavras que marcam essa apreciação cênica: Antes; Coragem; Depois; Incertezas; Futuros; Dualismo; Conflitos; Guerra; Paixão ou amor?; Culpa; Receio. 


Acadêmica: Nathália de Souza Mendes (Artes Cênicas UEM)

Maringá, 19 de março de 2024


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