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"Sobrevivente"

  Na peça Sobrevivente realizada no Sesc Maringá, observamos a atriz Nena Inoue em diálogo com o ator Pedro Inoue, seu filho, narrando uma história sobre sua própria ancestralidade, com foco nas existências das mulheres, sendo: a mãe, primas, tias e sua avó. É observado nesse percurso, as longas buscas por informações, as quais demandaram tempo, paciência e uma escuta muito ativa de Nena. A história te prende e enquanto espectadora, colo-me no lugar da personagem, pois assim como ela ainda tenho narrativas dispersas envoltas em grandes dúvidas. A partir desse primeiro contexto, o que se sobressai, nessa crítica, serão os recursos imagéticos utilizados para compor a espacialidade da memória, encontros e desencontros que a história possui. Na maioria das cenas acontecem projeções, com imagens, símbolos e objetos, que são dispostos em cima da mesa, do lado esquerdo do palco, onde Pedro materializa ao mesmo tempo em que a atriz narra, e olha para três eixos: a atriz verbalizando, o ator pr

Peça-filme “DESFAZENDA – ME ENTERREM FORA DESSE LUGAR”, 2022

A primeira direção da atriz-mc, slammer e diretora Roberta Estrela D’Alva fora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (NBD), dessa vez com o coletivo teatral paulistano chamado "O Bonde", resultou na peça-filme “Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar”, que discute o silenciamento das pessoas negras, revelando as relações complexas da manutenção da violência aos corpos. A peça traz muitas camadas atemporais, utilizando recortes de memórias das referências de episódios recentes de racismo e se desenvolve em ação dramática na história contada dos personagens 12, 13, 23 e 40, quatro pessoas negras que de início quase acreditam que foram “salvas” da guerra por um padre branco.  Por não se lembrarem do passado, eles vivem numa fazenda cuidando das tarefas diárias; quando chegaram não sabiam nem falar, eram supervisionadas por Zero, figura semelhante, enigmática e onipresente, com quem tinham relações de amor e ódio. Apesar do que lhes foi dito como certo, os personagens tem lapsos

Quais sensações cabem em "Alguma Coisa"?

Algum homem vive numa área rural e recebe uma carta. A partir desta carta, ele constrói alguma coisa. Essa coisa é grande e o ajuda a ficar longe do chão e perto do céu. Essa é a premissa do espetáculo “Alguma coisa” que utiliza as formas animadas, como caminho para contar essa história. Quem escreve o texto é algum contador de história, que neste caso, tem nome, é Fábio Superbi contador de histórias e marionetista brasileiro, que vive em Portugal e em novembro de 2022 esteve em Maringá/PR, apresentando o espetáculo “Alguma coisa”. Alguma coisa desse espetáculo ficou em mim, pois escrevo quatro meses depois e posso descrever as sensações que me fizeram registrar esse acontecimento, dentre elas destaco: alguma coisa de saudade, alguma coisa de memória, alguma coisa de família, alguma coisa de infância e outras várias algumas coisas. Alguma coisa nesse espetáculo, que tem como pano de fundo Minas Gerais, bateu forte numa paranaense que lembrou do sítio da vó, que nem existe mais. O homem

Fantasia encantadora: uma crítica teatral de “O Pássaro Azul” da Cia Cirko Volonte

O Pássaro Azul se trata de uma peça de Teatro de Bonecos, idealizada pela Cia Cirko Volonte de Londrina - PR . Esta crítica teatral versa sobre a apresentação realizada na cidade de  Maringá - PR no dia 10/02/2023 no Teatro Barracão  por meio do projeto Convite ao Teatro . Para um breve contexto, a Cia Cirko Volonte se trata de um grupo teatral londrino que atua na área de Circo e Teatro de Formas Animadas. Formado por Gustavo Bertin e Guilherme Padilha em 2010, e atualmente com Gustavo Bertin, Hanny Reis e Renata Ichisato como integrantes, o grupo já conta com 4 espetáculos no currículo sendo eles: Estapafúrdias (2012), O Encontro (2015), Mequetrefe Circo Show (2016) e O Pássaro Azul (2018)  O espetáculo O Pássaro Azul, concebido em 2018 e pausado devido a pandemia de covid-19 , é o mais recente projeto do grupo. A peça conta a história de uma marionete que, após ler um livro, adormece e entra num espiral de sonhos fantásticos em que atravessa os conceitos de imaginação e realidade

Terra em Trânsito – uma alusão ao isolamento social.

               Durante a pandemia muitas obras teatrais foram adaptadas do palco para o audiovisual, algumas delas não só gravaram as produções assim como eram, mas se apropriaram dos recursos audiovisuais, trazendo elementos que favorecem e dialogam com a intenção dos trabalhos elaborados e/ou adaptados. Terra em Trânsito bebeu dessa ideia, trazendo uma nova perspectiva do texto original de 2006, de Gerald Thomas, adaptando não só o visual, mas atualizando o texto para o contexto atual, ainda com o mesmo elenco.             Terra em trânsito serve a insanidade de uma atriz solista em seu camarim, se preparando para entrar no palco, e é durante esse momento de preparação e aquecimento, enquanto aguarda os três sinos tocarem que a personagem, sem nome, conversa com um  cisne judeu (que ganha voz com o ator Marcos Azevedo) e com o espelho, que se dá ao enquadramento da câmera. A atriz Fabiana Gugli, em meio a sua loucura, traz questões políticas e sociais, fazendo menção os últimos acont

A batalha da Natureza - Uma peça interativa

  A peça ´´A Batalha da Natureza ́ ́ apresentada via Youtube no dia 28 de novembro de 2020 é uma peça interativa que envolve o espectador. Ela aborda as temáticas de maneira lúdica e divertida interpretada pelo pássaro atobá, a flor bromélia, o peixe, a perereca, a tartaruga e o cacto, revoltados com a poluição em seus lares se determinam a realizar uma lista para os seres humanos com tudo que há de errado no comportamento humano e tudo que os humanos precisam saber em relação aos seus hábitos, visto que as consequências dos descuidos os mata aos poucos, tanto os animais quanto eles mesmos. A ilha em que moram está infestada de lixo trazidos pelas águas do mar, porém esse lixo não é deles, e sim jogados pelos seres humanos. Um questionamento interessante e de grande importância pautado na apresentação é a quantidade de plástico que todos os seres consomem. Conhecidos como "microplásticos" as pequenas partículas quase invisíveis do material são extremamente prejudiciais e mort

PYTUHEM - “Estamos vivendo uma guerra silenciosa e covarde”

Essa crítica sobretudo está sendo escrita para colaborar com o lançamento de uma plataforma digital: “TEATRO E OS POVOS INDÍGENAS” - TePI  - que teve seu lançamento na versão digital em 2021 e ainda segue com sua programação até 2022 tendo diversas propostas artísticas e trocas de conhecimento, performances, peças, leituras dramáticas, mesas redondas, lives, podcasts etc. Aqui escolho uma performance de Zahy Guajajara, pois está permanente na plataforma. Um dos principais interesses em escrever sobre essa plataforma digital é tornar possível o contato com novos espectadores. Como pessoa branca devo tomar certos cuidados ao me colocar a interpretar conteúdos que não pertencem a minha cultura, é um momento de escuta, o que torna ainda mais interessante num ponto de vista experiencial artístico, escrevo a partir das impressões e dos afetamentos, ao todo são 16m32s de videoperformance. Ouvir um idioma que não costumamos escutar, que nem sequer conhecemos ao longo de nossas vidas escolares,

Amanda - Por Rita Clemente

     A peça a ser elucidada hoje será a “Amanda” encenada por Rita Clemente no teatro #emcasacomosesc, esta já pensada e adaptada para este modelo remoto, dentro de casa apresentando um diálogo diferente dos evidenciados em um palco italiano de teatro, já ressaltando as possibilidades múltiplas e testes de teatro nesta modalidade contemporânea.      A trama da história se baseia em uma mulher que vai perdendo seus cinco sentidos com o tempo, neste ínterim somos convidados a adentrar este universo e sentir com a atriz através das possibilidades dos elementos presentes em cena, essa profunda transição. Imediatamente no início da peça adentramos uma atmosfera distinta das tradicionais, a iluminação tem grande protagonismo neste momento, podemos perceber uma contra iluminação amarelo-alaranjada em evidência de modo a visualizarmos a silhueta da atriz numa espécie de confusão mental em que a personagem se insere.      Continuamos a ser levados junto com a personagem nessa confusão à perda g

Mãe Coragem

       O início do espetáculo inicia com a atriz principal contando o contexto de Mãe Coragem enquanto se caracterizava, sequência interessante pois os comentários costumam vir depois do espetáculo terminado. Além de me localizar sobre o contexto daquele espetáculo, a sequencia de como foi se transformando na peça em si me deixou curiosa.      Segundo expectador que estava assistindo o espetáculo ao vivo: “A imagem mental pra quem assistiu e quem não assistiu será uma realidade através de sua interpretação” (MAGALHÃES, 2020). Comentário este que concordei totalmente, pois assistir um espetáculo pela tela de uma plataforma tecnológica requer muito mais da imaginação e atenção para a interpretação, pois muitos detalhes acabam se perdendo quando não estamos presencialmente acompanhando. No presencial percebemos os detalhes da iluminação que poderia ser mais escuro, dos elementos de cenário que poderia haver uma carroça por exemplo, e os personagens que faltaram, onde as vozes de fundo me

Era uma vez... outra vez

     Se você está cansado de peças infantis convencionais, que além de entediantes até para as crianças, não discutem nada que venha a acrescentar nos discursos cotidianos de seus filhos, ficará surpreso com os 35 minutos desta obra que discute pontos importantes como: autoestima; feminismo; diferenças; e doenças degenerativas, de maneira leve e orgânica.      Em parceria com o Projeto “Aperam” que visa a arrecadação de recursos para a comunidade e a integração da mesma em trabalhos culturais, esta obra teatral mostra um pouco dos últimos dias lúcidos de Carmela, a avó, e das visitas de sua netinha Ariela, com conversas cotidianas que toda criança passa durante a primeira infância, “porque Maria é assim? E eu não”, “porque não posso morar com você?”, entre outras perguntas que tenho certeza que você leitor certamente conhece. Entre tantas indagações por parte da personagem, são inseridos temas de extrema importância social como os já citados anteriormente, estes são apenas pincelados,