Amanda - Por Rita Clemente

    A peça a ser elucidada hoje será a “Amanda” encenada por Rita Clemente no teatro #emcasacomosesc, esta já pensada e adaptada para este modelo remoto, dentro de casa apresentando um diálogo diferente dos evidenciados em um palco italiano de teatro, já ressaltando as possibilidades múltiplas e testes de teatro nesta modalidade contemporânea.

    A trama da história se baseia em uma mulher que vai perdendo seus cinco sentidos com o tempo, neste ínterim somos convidados a adentrar este universo e sentir com a atriz através das possibilidades dos elementos presentes em cena, essa profunda transição. Imediatamente no início da peça adentramos uma atmosfera distinta das tradicionais, a iluminação tem grande protagonismo neste momento, podemos perceber uma contra iluminação amarelo-alaranjada em evidência de modo a visualizarmos a silhueta da atriz numa espécie de confusão mental em que a personagem se insere.

    Continuamos a ser levados junto com a personagem nessa confusão à perda gradativa dos sentidos, a qual se desloca e troca de cenário, agora vai para uma pequena sala de estar, onde podemos visualizar vários pratos, xícaras e bules espalhados pelo local. A iluminação neste espaço se traduz em um pequeno lustre com quatro lâmpadas, uma luz consideravelmente baixa, sob a qual faz-se presente um dos principais pontos a ser destacado nesta peça, o protagonismo da câmera. Este se estabelece por inteiro dentro desta encenação, é uma das grandes propostas, os ângulos, focos e desfoques da filmagem se modificam a todo tempo, permitindo com que todos os outros elementos fiquem variáveis.

    A personagem conta situações de sua vida pessoal e lembranças das quais a mesma passou quando já estava com seus sentidos se esvaindo e ninguém veio a perceber. Enquanto monologa possui umas movimentações um tanto bruscas, quebra dos pratos, xícaras... que acabam emitindo muito barulho no espaço mas que ao observarmos, não a afeta devido a perda dos sentidos. Há um delineamento dramático nessa profunda perda que vai nos deixando agonizados também.

    Quase ao fim ela volta para o corredor onde tínhamos visualizado a contra luz amarelo-alaranjada, todavia desta vez a função da iluminação se modifica, ao passo que antes se fazia uma contraluz, agora podemos ver claramente a atriz muito iluminada chegando a emitir uma projeção de sombras na parede atrás de si, a carga emocional transmitida pela personagem retrata muito bem sua desordem e dor pela perda de sensações tão “vitais” de seu dia a dia, esse desapego forçado se demonstra num apelo físico.

    Há uma forte percepção nesse desfecho de um rompimento de suas relações antes vivenciadas, uma difícil aceitação desta nova realidade. Somos convidados a vivenciar estas sensações com a personagem, mesmo que do outro lado da tela, as possibilidades variadas desta filmagem nos fazem imergir no conflito. Em suma, a viabilização desta proposta pelo SESC em casa contemplou novos recursos e possibilidades de encenação neste período pandêmico, além de apresentar uma temática sensível e profunda de reflexões.


Acadêmica: Jaqueline Nunes Carvalho (Artes Cênicas UEM)

Maringá, 24 de março de 2021

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